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síndrome de ulisses

Março 27, 2009

Em aula, já lá vai algum tempo, tivemos oportunidade de tocar em temas da Antropologia Médica Crítica, uma corrente da AM que se propõe a questionar os modelos e instrumentos biomédicos enquanto ciência inócua, a reflectir e a denunciar, portanto, a sua contextualidade [cultural, histórica…] e participação no sistema político e económico mais vasto – com todas as implicações que isso abarca, ou pode abarcar. Lembrem-se, por exemplo, da Barefoot Anthropology de Scheper-Hughes e do seu trabalho sobre a medicalização da fome, julgo que no Brasil. Esta antropologia é normalmente engajada, e a SH é um exemplo forte da corrente.

Outra questão do âmbito que foi levantada, foi a da Síndrome de Ulisses, recordam-se? Pois é, parece que entra no próximo DSM, O! manual de referência psiquiátrica, como categoria patológica. À síndrome, não fosse ela a do emigrante [com stress crónico e múltiplo], são especialmente vulneráveis os negros, ainda mais se forem mulheres. O seu aparecimento (grande descoberta do Doutor Joseba Achótegui) relaciona-se – por favor, não subscrevo nada disto – com uma vulnerabilidade especial destes grupos, aliada à dissolução das estruturas tradicionais na vida em urbanização, entre outros factores. Para este problema de grande especificidade – os emigrantes, as suas angústias e a sua neuroquímica fantástica – serão desenvolvidos, claro, fármacos adequados.

LGS

Um comentário

  1. Espero não ter perdido “o ponto” no meio da ironia – achego agora que reparo na inexistência de comentários… É que a formulação de tal categoria psiquiátrica, para além de subentender uma experiência de emigração única, reificando uma personagem que não existe – e não é preciso saber antropologia! bolas, os cérebros não são formatados pela emigração! -, despolitiza por completo a situação destes indivíduos, medicalizando os problemas sociais em que estão envolvidos. Pobreza, exclusão, clandestinidade… não se resolvem com comprimidos. Este tipo de solução devia ser última e não primeira, uma vez que incide nos efeitos e não nas causas. Por outro lado, venho a descobrir que não temos a mínima noção da força dos lobbies que actuam neste meio…



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